O HOMEM E A ALMA
Gibran Khalil Gibran
E o Deus dos deuses separou de si mesmo uma alma e
a dotou de beleza.
E deu-lhe a suavidade da brisa matinal e o perfume das flores
do campo e a doçura do luar.
E entregou-lhe a taça da alegria, dizendo-lhe:
"Só poderás beber desta taça se esqueceres o passado
e não te preocupares com o futuro."
E entregou-lhe a taça da tristeza, dizendo:
"Bebe dela, e compreenderás a essência da alegria da vida."
E soprou nela um amor que a abandonaria ao primeiro suspiro de saciedade,
e uma meiguice que a abandonaria à primeira
manifestação de orgulho.
E fez descer sobre ela, do céu,
um instinto que lhe revelaria os caminhos da verdade.
E depositou nas suas profundezas uma visão que vê,
o que não se vê.
E criou nela sentimentos que deslizam com as sombras
e caminham com os fantasmas.
E vestiu-a de um vestido de paixão que os anjos teceram com
as ondulações do arco-íris.
E colocou nela as trevas da dúvida, que são as sombras
da luz.
E tomou fogo da forja do ódio, e ventos do deserto da
ignorância, e areia do mar do egoísmo, e terra pisada
pelos pés dos séculos e amassou todos esses elementos
e fez o homem.
E deu-lhe uma força cega que se inflama nas horas de loucura
e desvanece diante das tentações.
Depois, depositou nele a vida,
que é o reflexo da morte.
E sorriu o Deus dos deuses,
e chorou, e sentiu um amor incomensurável e infinito
e uniu o homem e a alma
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